Ocorrência 1
Procurava
qualquer coisa, faltava-lhe apenas saber o quê, era-lhe impossível
identificar, com certeza, o motor daquela ausência sempre presente. Insatisfação? Talvez... mas de quê? Ou de quem. Quem?
Recusava sentir-se refém de outrem, fosse quem fosse, nascera só –
morreria só, inadmissível sentir a falta do desnecessário.
Barreiras sucessivas, muros erguidos na disciplina preventiva do eu,
construções baseadas na verdade suprema: o sofrimento existe. Sábio
pressuposto.
- Mestre...
- Tudo
existe dentro de nós.
- Mas...
- As
respostas que procuras estão contigo.
Um
pedaço de terra, rocha feita verde, impressão numa luz difusa: a
memória inicial. O princípio seria o fim? Duvidava. Duvidara
sempre. Ego? O suficiente para sobreviver aos acréscimos do
inevitável: nascer, envelhecer e morrer. Serenidade? A precisa para
não sucumbir aos erros comuns: felicidade, esperança e justiça.
Preservar a ausência do desnecessário, insistir na suficiência da
racionalidade lógica de quem encontrara a chave: não há cura para
o sofrimento. Sábio pressuposto.
- Mestre...
- É impossível olhar para fora sem ver por dentro.
- Mas...
- És
a medida de todas as coisas.
O mar
azul, ilusão de óptica, reflexo do céu inacessível: a metáfora
suprema. Os anjos como engenho de uma máquina movida a pó de
estrelas? Gigante monstruosidade gerada pelo imaginário da condição
humana. Necessidade de aprovação. Desejo de redenção. Diluir a
responsabilidade numa axiologia reduzida a ritos e superstições:
suspeitava. Suspeitara sempre. História? A impossibilidade de soltar
raízes: a inevitabilidade do era uma vez. E outra. Sempre.
M.
Lisboa: 2016
Ilha de Santa Maria - Região Autónoma dos Açores (fotografia: dulcecor) |
Sem comentários:
Enviar um comentário