Sem
palavras devorando-nos,
madrugadas
insones transformadas impossíveis existências,
cerrados
no ascensor contemporâneo.
Viemos
de outros tempos e vivemos neles,
desconhecidos
a querer tocar o céu,
sabemos
quanto querer mas não nos lembramos.
Subsiste
a memória do corpo: trabalhemo-la.
Conseguimos
trocar as palavras escritas em gestos anunciados,
olhos
abertos (ao contrário) para o sonho entrar,
sequências
adivinhadas em movimento.
Somos
todos os tempos - jogamos neles,
pedaços
sem memória una, antropofágicos,
sentimos
(quando queremos) para esquecer.
Permanece
a memória do espectáculo: celebremo-la.
Pontos
de cruz tropeçam-nos até ao encontro,
roubamos
lágrimas instantâneas, explodimos surdas gargalhadas,
lambemos
cicatrizes invisíveis, trocamos máscaras verosímeis.
As
cortinas são cerradas e o sonho desaparece connosco,
os
outros são longe desse instante sem pessoa(s),
vai-se
a luz temerária do efémero único.
Resiste
a memória do ofício: suportemo-la.
M.
Lisboa: 2014
Bar do Teatro Taborda - cidade de Lisboa (fotografia: jp_pombas) |
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