Quando
o mundo ainda não sabia que o era e as estrelas conspiravam entre
si, formando constelações, quando a energia invisível que tudo
rege e tudo inspira não tinha consciência da sua existência, houve
qualquer coisa, uma coisa qualquer. Quase nada transformado em tudo.
Um mistério: apareceu o mundo.
Ora
o mundo, nesse tempo primeiro, estava sem saber que o era e foi-se
formando ao acaso, outra força misteriosa, parente das conspirações
estrelares. O firmamento, cintilante e extraordinário em criações,
viu aparecer uma inusitada estrela amarela, incandescente e
diferente: as outras perguntavam-se... criada por quem? Qualquer
coisa. Outro mistério: chamaram-lhe Sol.
Como
ainda não havia tempo, estavam por imaginar os estranhos seres para
lhe dar origem, o Sol não envelheceu quando as estrelas lhe pediram
para procurar espaço no mundo; concentrado na viagem e imaginando
galáxias, nem deu pelo aparecimento dos planetas: ao sonhar-se
criara-os. Ainda um mistério: o sistema solar.
O
Sol escolheu um dos planetas para mirar-se em sonho: a esfera azul (a
cor mais bonita do mundo) e irrequieta; ao compreender a energia
invisível daquele planeta, a estrela amarela não se assustou,
percebeu-a múltipla e imanente, era um espelho fluído quebrado em
convexo de lava sólida, uma vida mistério: chamou-lhe Terra.
M. Lisboa:
2014
Sob o Rio Tejo - cidade de Lisboa (fotografia: dulcecor) |
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