segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Mito estrelado (sem unicórnio ou cavalo)

Quando o mundo ainda não sabia que o era e as estrelas conspiravam entre si, formando constelações, quando a energia invisível que tudo rege e tudo inspira não tinha consciência da sua existência, houve qualquer coisa, uma coisa qualquer. Quase nada transformado em tudo. Um mistério: apareceu o mundo.
 
Ora o mundo, nesse tempo primeiro, estava sem saber que o era e foi-se formando ao acaso, outra força misteriosa, parente das conspirações estrelares. O firmamento, cintilante e extraordinário em criações, viu aparecer uma inusitada estrela amarela, incandescente e diferente: as outras perguntavam-se... criada por quem? Qualquer coisa. Outro mistério: chamaram-lhe Sol.

Como ainda não havia tempo, estavam por imaginar os estranhos seres para lhe dar origem, o Sol não envelheceu quando as estrelas lhe pediram para procurar espaço no mundo; concentrado na viagem e imaginando galáxias, nem deu pelo aparecimento dos planetas: ao sonhar-se criara-os. Ainda um mistério: o sistema solar.

O Sol escolheu um dos planetas para mirar-se em sonho: a esfera azul (a cor mais bonita do mundo) e irrequieta; ao compreender a energia invisível daquele planeta, a estrela amarela não se assustou, percebeu-a múltipla e imanente, era um espelho fluído quebrado em convexo de lava sólida, uma vida mistério: chamou-lhe Terra.

M. Lisboa: 2014

Sob o Rio Tejo - cidade de Lisboa (fotografia: dulcecor)

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